sexta-feira, 27 de abril de 2012

MODELOS E TENDÊNCIAS EVOLUTIVAS NOS SISTEMAS EDUCATIVOS EUROPEUS





A educação tem sido encarada como um meio de formar as novas gerações dentro dos mesmos princípios e valores que os mais velhos adquiriram. Todas as sociedades possuem mecanismos educativos que influenciam o comportamento das crianças e futuros adultos, pois as aprendizagens da criança são feitas com base no convívio social. Porém, quando os principais pilares onde assentam os valores de uma sociedade se encontram em crise, ou seja, quando nos encontramos num momento histórico de grandes transformações, a educação será inevitavelmente afetada.

As gerações mais novas que se confrontam com esses momentos de crise deparam-se com comportamentos diferenciados por parte dos adultos. Alguns destes encaram a reestruturação dos valores e comportamentos como algo que se deve superar, reforçando os antigos princípios e valores, outros veem-na como uma oportunidade para corrigir erros e procurar novas soluções, considerando o momento de crise, como um momento de consciencialização e busca de novas soluções. Perante esta última atitude, a educação torna-se um meio de estimular a capacidade criadora dos agentes educativos, salientando atitudes de responsabilidade pela própria transformação, alterando comportamentos que permitem a cada indivíduo tornar-se mais responsável, passando a viver uma cidadania mais consciente e não apenas fruto de uma formalidade.

Na obra Teorias Contemporâneas da Educação, Yves Bertrand, propõe uma classificação em sete categorias das teorias atuais da educação. Contudo, este número não é estanque, permanecendo em aberto o alargamento a eventuais novas categorias que se tornem pertinentes. Nesta obra, é dado especial relevo às relações estabelecidas, em torno de quatro pilares fundamentais: o sujeito, a sociedade, os conteúdos a ensinar e, por último, as interações entre os três pólos. No pólo sujeito o autor “classifica as teorias que tentam descrever a prioridade dos determinantes socioculturais da educação concebida fundamentalmente como uma questão de estruturas sociais e culturais com um papel importante na transformação da sociedade e da cultura”; no pólo dos conteúdos, “associa as teorias académicas para as quais os conhecimentos a ensinar possuem uma estrutura objetiva e independente do aluno e da sociedade”.

De acordo com a opinião de autores como Edgar Morin e Grand’ Maison, a educação deverá proporcionar aos alunos ferramentas afetivas, inteletuais, psicomotoras, imaginativas, entre outras, para que com estas consigam intervir e transformar a realidade diária com que se deparam. Assim, segundo esta corrente a “educação deve ser repensada, não mais a partir de uma grelha industrial, mas a partir de uma visão mais global da evolução do planeta” (Bertrand 1991:122).
Vivemos neste início do século XXI graves problemas ecológicos, que nos mostram a necessidade urgente de adotarmos um pensamento ecológico a uma escala global. A natureza a cada dia que passa, vê os seus limites postos à prova. De acordo com Bertrand (1991:122), “a solução para estes problemas não passa unicamente por uma grande preocupação com o ambiente (Guattari, 1989), pela melhoria da eficácia da escola, pela supressão das classes sociais ou pelas tecnologias de comunicação pedagógica mais eficazes. Reside na invenção de uma nova visão do mundo e as instituições escolares deverão contribuir para que a mesma se realize”.

As teorias ecossociais da Educação abordam a preocupação face aos problemas gerados pelas estruturas sociais, económicas, políticas e culturais. Deste modo, e de acordo com este grupo de teorias sociais, as mudanças a operar no sistema educativo terão que obedecer a uma visão alargada de três aspetos: o indivíduo, a sociedade e o universo.
Neste âmbito, Grand’Maison, que propõe uma Teoria da Educação apoiada no que é concreto e nas vivências, sublinhando a necessidade de dar maior ênfase aos aspetos humanos e socais, em detrimento das abordagens personalista, utilitarista, ideológica, administrativa, política ou mesmo pedagógica. A estratégia pedagógica em que esta teoria assenta, compreende as seguintes categorias, Bertrand (1991:139):

* O saber fazer – suprimir a dicotomia entre o trabalho manual e o trabalho intelectual.
* O saber pensar – aprender a pensar por si mesmo.
* O saber viver – educar para a liberdade, sendo que o mapa democrático exige aprendizagens fundamentadas e uma educação que exige muita liberdade responsável.
* O saber partilhar – a função da escola é ensinar os alunos a ultrapassar os interesses individuais para aceder aos da comunidade.
* O saber dizer – propondo uma cultura apoiada na vivência, na reflexão, no amor e na luta.

Nesta categoria merece-nos especial destaque a teoria de De Rosnay, que apresenta uma teoria global, sistémica e ecológica da educação. O autor propõe nas suas obras Macroscope (1975) e Les Chemins de la vie (1983) uma teoria assente numa visão do mundo e numa nova abordagem simbolizada por um macroscópio, que será o instrumento que permitirá lançar um novo olhar sobre a natureza, a sociedade e o homem. Este instrumento simbolizará, para além disso, a abordagem sistémica, “que caracteriza a sua visão global dos problemas e dos sistemas, bem como a sua concentração nas interações entre os elementos” (Bertrand 1991:142).

 À perspetiva da educação, currículo do futuro, surge ligado o nome de Alvin Toffler. Nas suas obras faz uma reflexão apoiada na relação entre a educação, a cultura do futuro e a sociedade industrial atual.
 “O futuro é tratado como uma possibilidade de mudança na medida em que as atuais instituições sociais não estão adaptadas às necessidades da nossa época”. Alvin Toffler, defende que no ensino e apesar de toda a retórica sobre o futuro, as escolas têm dificuldade em “avançar”. Assim, e de modo a evitar o choque do futuro, é necessário criar um sistema educativo, que procure os objetivos e os métodos no futuro e não no passado. Em termos pedagógicos, isto significa apostar numa aprendizagem que se baseia na vida quotidiana da comunidade.
Como vimos anteriormente a linguagem sistémica encontra-se intimamente relacionada com a Escola enquanto parte do sistema educativo. Um sistema funciona em função de determinados objetivos, que o levam a auto-organizar-se e a adaptar-se para se desenvolver. Na Escola as mudanças processam-se com grande rapidez e este facto faz com que seja necessário refletir sobre o papel desta instituição, uma vez que se trata de um sistema aberto.


Bibliografia:

Bertrand, Yves e Guillemet, P. (1994). Organizações: Uma Abordagem Sistémica, Colecção Sociedade e Organizações, Lisboa: Instituto Piaget.

Bertrand, Yves e Valois, Paul (1994). Paradigmas Educacionais: Escola e   Sociedade , Colecção Horizontes Pedagógicos, Lisboa: Instituto Piaget.


Canário, Rui (2006). A Escola e a Abordagem Comparada. Novas realidades e novos olhares. Sísifo. Revista de Ciências da Educação (pp27-36).

Delors, Jacques (coord) (2003). Educação um Tesouro a Descobrir – Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, (8.ª ed.), Porto: Edições Asa.

Gaspar, M. I. (2005). Sistemas Educativos: princípios orientadores. Departamento de Ciências da Educação, Universidade Aberta. Recuperado em 12 de abril 2012, de: http://repositorioaberto.uab.pt/bitstream/10400.2/369/1/Des(a)fiando%20Discursos355-362.pdf.pdf

Pires, Eurico Lemos, et al. (1991). A Construção Social da Educação Escolar, Coleção Básica de Educação e Ensino, Porto: Edições Asa.

Toffler, Alvin (1970). O Choque do Futuro, Lisboa: Livros do Brasil.

Trindade, Rui (2002). Experiências Educativas e Situações de Aprendizagem- Novas práticas pedagógicas, Porto: Edições Asa.

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