A educação
tem sido encarada como um meio de formar as novas gerações dentro dos mesmos
princípios e valores que os mais velhos adquiriram. Todas as sociedades possuem
mecanismos educativos que influenciam o comportamento das crianças e futuros
adultos, pois as aprendizagens da criança são feitas com base no convívio
social. Porém, quando os principais pilares onde assentam os valores de uma
sociedade se encontram em crise, ou seja, quando nos encontramos num momento
histórico de grandes transformações, a educação será inevitavelmente afetada.
As gerações
mais novas que se confrontam com esses momentos de crise deparam-se com comportamentos
diferenciados por parte dos adultos. Alguns destes encaram a reestruturação dos
valores e comportamentos como algo que se deve superar, reforçando os antigos
princípios e valores, outros veem-na como uma oportunidade para corrigir erros
e procurar novas soluções, considerando o momento de crise, como um momento de
consciencialização e busca de novas soluções. Perante esta última atitude, a
educação torna-se um meio de estimular a capacidade criadora dos agentes
educativos, salientando atitudes de responsabilidade pela própria
transformação, alterando comportamentos que permitem a cada indivíduo tornar-se
mais responsável, passando a viver uma cidadania mais consciente e não apenas
fruto de uma formalidade.
Na obra Teorias Contemporâneas da Educação, Yves
Bertrand, propõe uma classificação em sete categorias das teorias atuais da
educação. Contudo, este número não é estanque, permanecendo em aberto o
alargamento a eventuais novas categorias que se tornem pertinentes. Nesta obra,
é dado especial relevo às relações estabelecidas, em torno de quatro pilares
fundamentais: o sujeito, a sociedade, os
conteúdos a ensinar e, por último, as interações entre os três pólos. No
pólo sujeito o autor “classifica as teorias que tentam descrever a prioridade
dos determinantes socioculturais da educação concebida fundamentalmente como
uma questão de estruturas sociais e culturais com um papel importante na
transformação da sociedade e da cultura”; no pólo dos conteúdos, “associa as
teorias académicas para as quais os conhecimentos a ensinar possuem uma
estrutura objetiva e independente do aluno e da sociedade”.
De acordo com a opinião
de autores como Edgar Morin e Grand’ Maison,
a educação deverá proporcionar aos alunos ferramentas afetivas, inteletuais,
psicomotoras, imaginativas, entre outras, para que com estas consigam intervir
e transformar a realidade diária com que se deparam. Assim, segundo esta
corrente a “educação deve ser repensada,
não mais a partir de uma grelha industrial, mas a partir de uma visão mais global
da evolução do planeta” (Bertrand 1991:122).
Vivemos neste início do
século XXI graves problemas ecológicos, que nos mostram a necessidade urgente
de adotarmos um pensamento ecológico
a uma escala global. A natureza a cada dia que passa, vê os seus limites postos
à prova. De acordo com Bertrand (1991:122), “a solução para estes problemas não
passa unicamente por uma grande preocupação com o ambiente (Guattari, 1989),
pela melhoria da eficácia da escola, pela supressão das classes sociais ou
pelas tecnologias de comunicação pedagógica mais eficazes. Reside na invenção
de uma nova visão do mundo e as instituições escolares deverão contribuir para
que a mesma se realize”.
As teorias ecossociais da Educação abordam a preocupação
face aos problemas gerados pelas estruturas sociais, económicas, políticas e
culturais. Deste modo, e de acordo com este grupo de teorias sociais, as
mudanças a operar no sistema educativo terão que obedecer a uma visão alargada
de três aspetos: o indivíduo, a sociedade e o universo.
Neste âmbito, Grand’Maison, que propõe uma Teoria da Educação apoiada no que é
concreto e nas vivências, sublinhando a necessidade de dar maior ênfase aos
aspetos humanos e socais, em detrimento das abordagens personalista,
utilitarista, ideológica, administrativa, política ou mesmo pedagógica. A
estratégia pedagógica em que esta teoria assenta, compreende as seguintes
categorias, Bertrand (1991:139):
* O saber fazer – suprimir a dicotomia entre o trabalho manual e o
trabalho intelectual.
* O saber pensar – aprender a pensar por si mesmo.
* O saber viver – educar para a liberdade, sendo que o mapa
democrático exige aprendizagens fundamentadas e uma educação que exige muita
liberdade responsável.
* O saber partilhar – a função da escola é ensinar os alunos a
ultrapassar os interesses individuais para aceder aos da comunidade.
* O saber dizer – propondo uma cultura apoiada na vivência, na
reflexão, no amor e na luta.
Nesta categoria
merece-nos especial destaque a teoria de De Rosnay, que apresenta uma teoria global,
sistémica e ecológica da educação. O autor propõe nas suas obras Macroscope (1975) e Les Chemins de la vie (1983) uma teoria assente numa visão do mundo
e numa nova abordagem simbolizada por um macroscópio, que será o instrumento
que permitirá lançar um novo olhar sobre a natureza, a sociedade e o homem.
Este instrumento simbolizará, para além disso, a abordagem sistémica, “que
caracteriza a sua visão global dos problemas e dos sistemas, bem como a sua
concentração nas interações entre os elementos” (Bertrand 1991:142).
À perspetiva da educação, currículo do futuro, surge ligado o
nome de Alvin Toffler. Nas suas obras
faz uma reflexão apoiada na relação entre a educação, a cultura do futuro e a
sociedade industrial atual.
“O futuro é tratado como uma possibilidade de
mudança na medida em que as atuais instituições sociais não estão adaptadas às
necessidades da nossa época”. Alvin Toffler, defende que no ensino e apesar de
toda a retórica sobre o futuro, as escolas têm dificuldade em “avançar”. Assim,
e de modo a evitar o choque do futuro,
é necessário criar um sistema educativo, que procure os objetivos e os métodos
no futuro e não no passado. Em termos pedagógicos, isto significa apostar numa
aprendizagem que se baseia na vida quotidiana da comunidade.
Como vimos anteriormente
a linguagem sistémica encontra-se
intimamente relacionada com a Escola enquanto parte do sistema educativo. Um
sistema funciona em função de determinados objetivos, que o levam a
auto-organizar-se e a adaptar-se para se desenvolver. Na Escola as mudanças
processam-se com grande rapidez e este facto faz com que seja necessário
refletir sobre o papel desta instituição, uma vez que se trata de um sistema
aberto.
Bibliografia:
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Yves e Guillemet, P. (1994). Organizações:
Uma Abordagem Sistémica,
Colecção Sociedade e Organizações, Lisboa: Instituto Piaget.
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Canário, Rui (2006). A Escola e a Abordagem Comparada. Novas
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Delors, Jacques (coord) (2003). Educação um Tesouro a Descobrir –
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Brasil.
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