Ao debruçarmo-nos sobre a literatura, podemos concluir quão
numerosos são os autores que têm sublinhado a pertinência da existência de
investigações sobre as relações entre Escola e Sociedade. “As relações entre a
escola e a sociedade são consideradas como interacções dialécticas onde, quer a
escola, quer a sociedade, são simultaneamente determinantes e determinadas”
(Pires et al 1991:190).
Desta forma, as políticas educativas não podem ignorar estes
desafios e o Relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre Educação
para o século XXI, chama a atenção para o facto de tais políticas poderem
contribuir de forma direta para um “ mundo melhor, para um desenvolvimento
humano sustentável, para a compreensão mútua entre os povos...”.
No referido relatório, é de resto, assumida a importância da
educação como fator que ajuda a resolver “ becos sem saída”. Este documento
estabelece um quadro de referência para o futuro da educação assente em quatro
pilares fundamentais, a saber: aprender
a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a viver juntos.
Educar, segundo definições propostas em dicionários ou
enciclopédias significa influenciar sistematicamente alguém, com o propósito de
formá-lo e desenvolvê-lo. Existem ainda definições, que apontam o ato de educar
como tendo a finalidade de tornar o indivíduo apto a enfrentar um meio social
determinado e a integrar-se nele com personalidade formada. Através desta,
a sociedade transmite uma série de experiências acumuladas, geralmente
selecionadas e adaptadas às diferentes classes etárias como por exemplo as
relacionadas com a autonomia, a comunicação, entre outras.
No já referido relatório, educar para o desenvolvimento humano é “
um dos principais papéis reservados à Educação e que consiste, antes de mais,
em dotar a humanidade da capacidade de dominar o seu próprio desenvolvimento”.
Refere-se ainda que a Educação pode ser considerada um aspeto importante para o
planeta, no que respeita à “ construção de ideais de paz, liberdade ou justiça
social”.
Também Frederico Mayor, no seu prefácio da obra de Edgar Morin
(1999:11) se refere à importância de trabalhar para construir um “ futuro viável”.
“ A democracia, a equidade, a justiça social, a paz e a harmonia com o nosso
meio ambiente natural devem ser palavras-chave deste mundo em transformação.
Sublinha ainda que, a influência da educação nestas modificações essenciais
para o nosso estilo de vida e para o nosso comportamento. Das suas palavras
podemos concluir que, a educação se pode considerar uma “ força do futuro”,
porque constitui um dos instrumentos mais poderosos para realizar
modificações.O objetivo fundamental da educação passa por “civilizar e
solidarizar a Terra, transformar a espécie humana em verdadeira humanidade
torna-se o objetivo global de toda a educação, aspirando não só a um progresso,
mas igualmente à sobrevivência da humanidade” Edgar Morin (1999:68).
Neste sentido, a escola apresenta-se como um local possível e
privilegiado, que temos ao nosso alcance, enquanto profissionais, e que deve
ser explorado nas suas potencialidades, sobretudo ao nível humano. Mas que não
é nem pode ser único. A comissão internacional que elaborou o já
mencionado Relatório sobre a Educação para o século XXI faz referência à
“sociedade educativa baseada na aquisição, atualização e utilização dos
conhecimentos”. Com efeito, a sociedade exige hoje dos cidadãos uma atualização
contínua ao nível dos conhecimentos. O conceito de educação ao longo da vida
está cada vez mais presente, sendo que o saber ao longo da vida, permite a
construção da pessoa enquanto ser humano, aumentando e atualizando as suas
competências.
Neste campo, a escola desempenha um papel crucial na formação de cidadãos, que estejam integrados na sociedade da informação. É importante que os alunos passem por um período de escolarização pré-estabelecido, como acontece atualmente, mas para além deste é importante que o conceito de educação se desenvolva e que dê lugar a um processo de aprendizagem ao longo da vida, que não se limite à aquisição de determinadas competências num período de tempo pré-estabelecido segundo planos curriculares uniformes.
Conceito ou noção de sistema
Em termos históricos, a abordagem sistémica surgiu no início do
século XX, como uma necessidade de estudar os fenómenos de uma forma integrada
e na sua globalidade, não valorizando apenas as partes constituintes de um
todo. Na atualidade são feitas inúmeras referências à necessidade de uma
visão sistémica. Podemos dizer que a investigação sobre sistemas se traduziu
numa tentativa de criar uma alternativa ao pensamento analítico, que subsistiu
durante cerca de três séculos no mundo ocidental. Com tal evolução surgiram
novos conceitos como sinergia,
paradigma e outros. A Von
Bertanlanffy se deve a criação da denominada teoria geral dos sistemas. Este
biólogo austríaco deu a conhecer as suas primeiras investigações nos anos 20,
que incidiam precisamente numa visão global da vida. Posteriormente, escreveu Modern Theories of Development e na década de 50 fundou a Society for General Systems
Research.
Este último trabalho foi decisivo no desenvolvimento do pensamento
sistémico, tendo promovido a aplicação deste sistema a outras áreas do
conhecimento. Pareceu-nos importante referir nesta breve síntese histórica
que a Society for General Systems
Research, no trabalho
que desenvolveu, apontou ainda algumas vantagens à abordagem sistémica, sendo
disso exemplo a utilização de métodos rigorosos, a importância de uma visão
holística e ecológica do Mundo, assim como a interdisciplinaridade. A
palavra sistema começou a fazer parte da linguagem
corrente nos últimos quarenta anos, enquanto define sistema como sendo “ um
complexo de elementos interactuantes” Bertanlanffy (citado por E. Morin
(1991:29).
Nesta definição estão subjacentes a noção de complexidade entre
elementos simples (que possuem complexidade), mas também a noção de interacção
entre os elementos constituintes dos sistemas.
O “campo da teoria dos sistemas
é muito mais vasto, quase universal, pois que num sentido, qualquer realidade
conhecida, desde o átomo à galáxia, ao passar pela molécula, a célula, o
organismo e a sociedade pode ser concebida como sistema, quer dizer associação
combinatória de elementos diferentes”, Edgar Morin (1991:24). Para este autor
existem três grandes vantagens na abordagem sistémica, nomeadamente:
1. no centro da teoria, com a noção de
sistema, ter-se colocado uma unidade complexa, um todo que não de reduz à soma
das partes constituintes;
2. a concepção da noção de sistema como
uma noção ambígua;
3. colocar-se a um nível
transdisciplinar, que permite conceber a unidade da ciência e paralelamente a
diferenciação das ciências.
Existem ainda outros autores que sublinham as vantagens desta
abordagem aplicadas a vários ramos do conhecimento científico, sendo que na
área das ciências humanas, estas se tornam mais visíveis. De Rosnay defende que
abordagem sistémica e abordagem analítica até se podem complementar, não tendo
que ser necessariamente opostas. Considera a abordagem sistémica como uma
análise macroscópica, que salienta as “ ações empreendidas pelos atores de um
sistema” citado por Bertrand e
Valois (1994:13).
De acordo com este autor, o macroscópio serve para analisar o
“infinitamente complexo”, ou seja, os sistemas que queremos estudar. A metodologia sistémica assenta em três princípios
fundamentais:“elevar-se para
ver melhor, relacionar para melhor compreender e situar para agir melhor” (De Rosnay 1995).
Deste modo pesquisamos sobre a linha de pensamento dos autores que
defendem a importância da abordagem sistémica, que na nossa opinião é a mais
coerente quando se trata de analisar a “ natureza dos laços que unem as
diferentes esferas da sociedade às organizações cuja finalidade é educar os
membros da sociedade”(Bertrand e Valois 1994). Com efeito, e seguindo a linha
de pensamento dos autores “ a organização educativa é determinada pelas
orientações da sociedade em que se insere, assim como as suas normas, leis e
regras” (Bertrand e Valois 1994:13). Estes autores lembram ainda que as relações
que se estabelecem entre a escola e a sociedade podem ter um sentido duplo,
podendo “ intervir nas suas próprias orientações, fixadas pela sociedade, quer
aceitando-as, adaptando-as ou contestando-as” (Bertrand e Valois 1994:14).
De acordo com Giddens (1984) e Schein (1985), Argyris, Putan e
Smith ( 1987), Morgan (1989) e Bertrand (1991), citados na obra de Bertrand e Valois (1994:18) “ as organizações são, pois, feitas de
atores, que agem em interação uns com os outros e que proporcionam feedbacks contínuos sobre o que é necessário
dizer e fazer”. As organizações educativas são estruturadas e temporais.
De facto, os sistemas educativos são estruturas muito complexas, mas no que
concerne à organização estruturada dos mesmos. Veja-se a este propósito o
organigrama do sistema educativo, elaborado pelo Ministério da Educação, onde
se definem as diferentes estruturas que foram criadas para o funcionamento do
sistema.
Bibliografia:
Bertrand, Yves e Valois, Paul.(1994). Paradigmas Educacionais:
Escola e Sociedade, Colecção
Horizontes Pedagógicos, Lisboa: Instituto Piaget.
Bertrand, Yves e Guillemet, P.(1994). Organizações: Uma
Abordagem Sistémica, Colecção
Sociedade e Organizações, Lisboa: Instituto Piaget.
Delors, Jacques (coord) (2003). Educação um Tesouro a
Descobrir – Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional
sobre Educação para o século XXI, (8.ª
ed.), Porto: Edições Asa.
Morin, Edgar (1999). Os Sete Saberes para a Educação do
Futuro, Colecção
Horizontes Pedagógicos, Lisboa: Instituto Piaget.
Morin, Edgar (1991). Introdução ao Pensamento Complexo, Colecção Epistemologia e
Sociedade, Lisboa: Instituto Piaget.
Pires, Eurico Lemos, et al. (1991). A Construção Social da
Educação Escolar, Colecção Básica
de Educação e Ensino, Porto: Edições Asa.
Rosnay, Joel De (1977). O Macroscópio, para uma visão
global, Lisboa: Arcadia.
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