sábado, 31 de março de 2012

ASPETOS CONTEXTUAIS DOS SISTEMAS EDUCATIVOS


Ao debruçarmo-nos sobre a literatura, podemos concluir quão numerosos são os autores que têm sublinhado a pertinência da existência de investigações sobre as relações entre Escola e Sociedade. “As relações entre a escola e a sociedade são consideradas como interacções dialécticas onde, quer a escola, quer a sociedade, são simultaneamente determinantes e determinadas” (Pires et al 1991:190).
Desta forma, as políticas educativas não podem ignorar estes desafios e o Relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, chama a atenção para o facto de tais políticas poderem contribuir de forma direta para um “ mundo melhor, para um desenvolvimento humano sustentável, para a compreensão mútua entre os povos...”.

No referido relatório, é de resto, assumida a importância da educação como fator que ajuda a resolver “ becos sem saída”. Este documento estabelece um quadro de referência para o futuro da educação assente em quatro pilares fundamentais, a saber: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a viver juntos.
Educar, segundo definições propostas em dicionários ou enciclopédias significa influenciar sistematicamente alguém, com o propósito de formá-lo e desenvolvê-lo. Existem ainda definições, que apontam o ato de educar como tendo a finalidade de tornar o indivíduo apto a enfrentar um meio social determinado e a integrar-se nele com personalidade formada. Através desta, a sociedade transmite uma série de experiências acumuladas, geralmente selecionadas e adaptadas às diferentes classes etárias como por exemplo as relacionadas com a autonomia, a comunicação, entre outras.

No já referido relatório, educar para o desenvolvimento humano é “ um dos principais papéis reservados à Educação e que consiste, antes de mais, em dotar a humanidade da capacidade de dominar o seu próprio desenvolvimento”. Refere-se ainda que a Educação pode ser considerada um aspeto importante para o planeta, no que respeita à “ construção de ideais de paz, liberdade ou justiça social”.
Também Frederico Mayor, no seu prefácio da obra de Edgar Morin (1999:11) se refere à importância de trabalhar para construir um “ futuro viável”. “ A democracia, a equidade, a justiça social, a paz e a harmonia com o nosso meio ambiente natural devem ser palavras-chave deste mundo em transformação. Sublinha ainda que, a influência da educação nestas modificações essenciais para o nosso estilo de vida e para o nosso comportamento. Das suas palavras podemos concluir que, a educação se pode considerar uma “ força do futuro”, porque constitui um dos instrumentos mais poderosos para realizar modificações.O objetivo fundamental da educação passa por “civilizar e solidarizar a Terra, transformar a espécie humana em verdadeira humanidade torna-se o objetivo global de toda a educação, aspirando não só a um progresso, mas igualmente à sobrevivência da humanidade” Edgar Morin (1999:68).

Neste sentido, a escola apresenta-se como um local possível e privilegiado, que temos ao nosso alcance, enquanto profissionais, e que deve ser explorado nas suas potencialidades, sobretudo ao nível humano. Mas que não é nem pode ser único. A comissão internacional que elaborou o já mencionado Relatório sobre a Educação para o século XXI faz referência à “sociedade educativa baseada na aquisição, atualização e utilização dos conhecimentos”. Com efeito, a sociedade exige hoje dos cidadãos uma atualização contínua ao nível dos conhecimentos. O conceito de educação ao longo da vida está cada vez mais presente, sendo que o saber ao longo da vida, permite a construção da pessoa enquanto ser humano, aumentando e atualizando as suas competências.


Neste campo, a escola desempenha um papel crucial na formação de cidadãos, que estejam integrados na sociedade da informação. É importante que os alunos passem por um período de escolarização pré-estabelecido, como acontece atualmente, mas para além deste é importante que o conceito de educação se desenvolva e que dê lugar a um processo de aprendizagem ao longo da vida, que não se limite à aquisição de determinadas competências num período de tempo pré-estabelecido segundo planos curriculares uniformes.

Conceito ou  noção de sistema

Em termos históricos, a abordagem sistémica surgiu no início do século XX, como uma necessidade de estudar os fenómenos de uma forma integrada e na sua globalidade, não valorizando apenas as partes constituintes de um todo. Na atualidade são feitas inúmeras referências à necessidade de uma visão sistémica. Podemos dizer que a investigação sobre sistemas se traduziu numa tentativa de criar uma alternativa ao pensamento analítico, que subsistiu durante cerca de três séculos no mundo ocidental. Com tal evolução surgiram novos conceitos como sinergia, paradigma e outros. A Von Bertanlanffy se deve a criação da denominada teoria geral dos sistemas. Este biólogo austríaco deu a conhecer as suas primeiras investigações nos anos 20, que incidiam precisamente numa visão global da vida. Posteriormente, escreveu Modern Theories of Development e na década de 50 fundou a Society for General Systems Research

Este último trabalho foi decisivo no desenvolvimento do pensamento sistémico, tendo promovido a aplicação deste sistema a outras áreas do conhecimento. Pareceu-nos importante referir nesta breve síntese histórica que  a Society for General Systems Research,  no trabalho que desenvolveu, apontou ainda algumas vantagens à abordagem sistémica, sendo disso exemplo a utilização de métodos rigorosos, a importância de uma visão holística e ecológica do Mundo, assim como a interdisciplinaridade. A palavra sistema começou a fazer parte da linguagem corrente nos últimos quarenta anos, enquanto define sistema como sendo “ um complexo de elementos interactuantes” Bertanlanffy (citado por E. Morin (1991:29). 

Nesta definição estão subjacentes a noção de complexidade entre elementos simples (que possuem complexidade), mas também a noção de interacção entre os elementos constituintes dos sistemas.
O “campo da teoria dos sistemas é muito mais vasto, quase universal, pois que num sentido, qualquer realidade conhecida, desde o átomo à galáxia, ao passar pela molécula, a célula, o organismo e a sociedade pode ser concebida como sistema, quer dizer associação combinatória de elementos diferentes”, Edgar Morin (1991:24). Para este autor existem três grandes vantagens na abordagem sistémica, nomeadamente:

1.      no centro da teoria, com a noção de sistema, ter-se colocado uma unidade complexa,  um todo que não de reduz à soma das partes constituintes;
2.      a concepção da noção de sistema como uma noção ambígua;
3.     colocar-se a um nível transdisciplinar, que permite conceber a unidade da ciência e paralelamente a diferenciação das ciências.

Existem ainda outros autores que sublinham as vantagens desta abordagem aplicadas a vários ramos do conhecimento científico, sendo que na área das ciências humanas, estas se tornam mais visíveis. De Rosnay defende que abordagem sistémica e abordagem analítica até se podem complementar, não tendo que ser necessariamente opostas. Considera a abordagem sistémica como uma análise macroscópica, que salienta as “ ações empreendidas pelos atores de um sistema” citado por Bertrand e Valois (1994:13).

De acordo com este autor, o macroscópio serve para analisar o “infinitamente complexo”, ou seja, os sistemas que queremos estudar. A metodologia sistémica assenta em três princípios fundamentais:“elevar-se para ver melhor, relacionar para melhor compreender e situar para agir melhor” (De Rosnay 1995).  

Deste modo pesquisamos sobre a linha de pensamento dos autores que defendem a importância da abordagem sistémica, que na nossa opinião é a mais coerente quando se trata de analisar a “ natureza dos laços que unem as diferentes esferas da sociedade às organizações cuja finalidade é educar os membros da sociedade”(Bertrand e Valois 1994). Com efeito, e seguindo a linha de pensamento dos autores “ a organização educativa é determinada pelas orientações da sociedade em que se insere, assim como as suas normas, leis e regras” (Bertrand e Valois 1994:13). Estes autores lembram ainda que as relações que se estabelecem entre a escola e a sociedade podem ter um sentido duplo, podendo “ intervir nas suas próprias orientações, fixadas pela sociedade, quer aceitando-as, adaptando-as ou contestando-as” (Bertrand e Valois 1994:14).

De acordo com Giddens (1984) e Schein (1985), Argyris, Putan e Smith ( 1987), Morgan (1989) e Bertrand (1991), citados na obra de  Bertrand e Valois (1994:18)  “ as organizações são, pois, feitas de atores, que agem em interação uns com os outros e que proporcionam feedbacks contínuos sobre o que é necessário dizer e fazer”. As organizações educativas são estruturadas e temporais. De facto, os sistemas educativos são estruturas muito complexas, mas no que concerne à organização estruturada dos mesmos. Veja-se a este propósito o organigrama do sistema educativo, elaborado pelo Ministério da Educação, onde se definem as diferentes estruturas que foram criadas para o funcionamento do sistema.

Bibliografia:

Bertrand, Yves e Valois, Paul.(1994). Paradigmas Educacionais: Escola e Sociedade, Colecção Horizontes Pedagógicos, Lisboa: Instituto Piaget.

Bertrand, Yves e Guillemet, P.(1994). Organizações: Uma Abordagem  Sistémica, Colecção Sociedade e Organizações, Lisboa: Instituto Piaget.

Delors, Jacques (coord) (2003). Educação um Tesouro a Descobrir – Relatório para    a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, (8.ª ed.), Porto: Edições Asa.

Morin, Edgar (1999). Os Sete Saberes para a Educação do Futuro, Colecção  Horizontes Pedagógicos, Lisboa: Instituto Piaget.

Morin, Edgar (1991). Introdução ao Pensamento Complexo, Colecção Epistemologia e Sociedade, Lisboa: Instituto Piaget.

Pires, Eurico Lemos, et al. (1991). A Construção Social da Educação Escolar, Colecção Básica de Educação e Ensino, Porto: Edições Asa.

Rosnay, Joel De (1977). O Macroscópio, para uma visão global, Lisboa: Arcadia.

TEMAS A DESENVOLVER:


TEMA I: MUTAÇÕES SOCIAIS E SISTEMAS EDUCATIVOS
1.Aspetos contextuais dos Sistemas Educativos
2.Noção ou conceito de sistema

TEMA II: MODELOS E TENDÊNCIAS EVOLUTIVAS NOS SISTEMAS EDUCATIVOS EUROPEUS
1. Opções educativas versus opções de sociedade
2. Princípios orientadores e modelos organizativos
3. Os Sistemas Educativos na Europa

TEMA III: OS SISTEMAS DE EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO PARA A EUROPA DO CONHECIMENTO
1. Traços gerais e estratégias de modernização dos Sistemas Educativos
2. O quadro estratégico europeu de referência para as competências básicas e as dinâmicas de inovação e mudança na Educação

TEMA IV: A REGULAÇÃO DOS SISTEMAS EDUCATIVOS
1. O conceito de regulação
2. Quadros teóricos interpretativos da governação dos Sistemas Educativos

TEMA V: AS LINHAS-MESTRAS DA AVALIAÇÃO DOS SISTEMAS EDUCATIVOS
1. Conceitos e modalidades de avaliação
2. Políticas e quadros de referência para a avaliação dos Sistemas Educativos